Um ano antes...
A chave destrancou o que agora seria seu paraíso.
Então a porta se abriu.
O fato de sua sala ser claramente muito mais aconchegante do que o cômodo onde se encontravam seus quatro aprendizes — como gostava de chama-los em seus pensamentos, ainda que eles não soubessem disso — não fazia com que ela se sentisse por cima. Não. Na verdade ela sabia que em algum momento de sua vida ela já esteve em uma situação parecida. Talvez até mesmo naquele mesmo galpão, gélido e completamente abandonado. Naquele instante, ela sabia seu lugar, o que tinha que fazer e não queria que qualquer coisa saísse do controle pelo mínimo descontrole do seu ego.
O ambiente era agradável. Semelhante a um pequeno escritório domiciliar, mas ao contrário de outros, a sala era retangular. Apesar de aparentemente organizado, havia, em um mural, fotos de alguns adolescentes. Em sua mesa, mais algumas enquanto outras saiam de sua impressora. A mesa à sua frente era grande e se estendia da parede lateral da esquerda, até a outra, à direita. O mural com as fotos ficava na parede a sua frente, atrás de dois monitores LCD de 21,5 polegadas. Grandes o suficientes para ver cada detalhe dos vídeos que neles seriam exibidos. Os monitores ficavam apoiados em uma espécie de uma pequena bancada que serviam apenas para deixar a tela na altura correta dos olhos. O teclado e o mouse ficavam em um apoio que corria por baixo da mesa.
Enquanto entrava na sala, achou que seria daquela forma que se sentia John, personagem da série de filmes Saw. Talvez, involuntariamente, tenha se inspirado em seu modo de pensar, apenas com duas diferenças: Ela não queria testá-los pela vida, apenas inicia-los para o mundo. E aqui não temos o Billy, pensou e sorriu instantaneamente, quase que lamentando, sarcasticamente, a falta de um artifício do gênero.
Sentou-se na cadeira de frente para a mesa, e abriu sue notebook previamente ligado. Na tela era exibido um countdown. Quatro horas era o tempo restante, e o que aconteceria após esse tempo ela sabia bem. Mia — alcunha que ela mesma tratou de escolher para si —recostou-se na cadeira e olhou atentamente para os dois monitores que exibiam a mesma imagem, mas de ângulos diferentes. Ali estavam os quatro aprendizes. Estavam mas sequer sabiam, muito menos onde. A quatro câmeras colocadas em pontos estratégicos do galpão onde estavam os adolescentes, capturavam tudo no escuro, e os monitores exibiam tudo em um tom esverdeado. Até aquele instante, nenhum movimento. Mia sabia que até o fim do countdown, nada aconteceria, ao menos não era para acontecer. Todos estavam devidamente sedados e o efeito só poderia passar pouco antes do cronômetro zerar.
Mia tinha 19 anos. Já era uma mulher e extremamente sensual. Mas apesar disso, não gostava de usar roupas curtas, tampouco roupas longas demais ou que ficassem folgadas no corpo. Ela sabia usar suas roupas e seus acessórios da melhor forma possível. A sua pele branca, acentuava o tom vermelho de seus lábios e o contorno de seus olhos. Isso tornava completamente desnecessários o uso de maquiagens como batom ou lápis de olho, mas ela usava. Seus olhos castanhos e seus lábios avermelhados assim como seu cabelo, cortado pouco abaixo do ombro. Vez ou outra levantava sua sobrancelha direita, cuidadosamente desenhada, como se cada detalhe que a agradasse fosse correspondido com esse gesto.
Com a mão direita, arrumou seu cabelo avermelhado atrás da orelha e notou que suas ultimas impressões já estavam prontas. Mia se levantou e junto às fotos pegou também alguns pequenos imãs, que serviriam para fixa-las no mural a sua frente. Uma por uma foi sendo fixada junto às outras. Ao final, Mia olhou para cada uma das dezenas fotografias que ali estavam, como se quisesse guardar bem o rosto de cada um deles, em cada situação possível. Medo, desconfiança, alegria, fúria... Ela tinha todas essas possibilidades fixas em seu mural, e muito em breve teria também acontecendo ao vivo para seu deleite.
***
Já se passara uma hora no cronômetro. Ao perceber isso, Mia levantou sua sobrancelha direita como uma resposta ao tempo. Ela estava recostada em sua cadeira apenas pensando. Por dentro, Mia se sentia uma estranha para si mesma. Ela de fato não se conhecia, mesmo sabendo de cada detalhe de sua vida. Mas havia outro sentimento. O de repugnância. Este não se tratava dela, mas sim de um homem. Ao pensar nisso percebeu que talvez conhecesse mais o sujeito do que a si mesma. No fundo Mia queria que aquele homem estivesse onde aqueles quatro estão, pois ainda que não se lembrasse muito bem, ela sentia que já esteve muito pior do que eles.
—Filho da puta — Sussurrou para a imagem de Alex Vonturi que tinha em sua mente naquele instante. O homem que apagara suas memórias e a transformara em outra pessoa. Naquilo.
Mia pousou seu olhar — um híbrido de calmaria e de uma fúria intensa — em uma xícara com café frio., provavelmente do dia anterior, e assim ficou por alguns segundos. Sem ao menos piscar. Como se analisasse cada aspecto do objeto em sua mesa. Ao mesmo tempo, sentia dentro de sí uma enorme força tomar conta de seu corpo. Seus músculos se enrijeceram e ela soube que estavam se preparando para o que aconteceria a seguir.
— FILHO... DA... PUTAAA — Mia agora estava de pé e a xícara fora arremessada para o alto, porém, não pelas suas mãos. Ao atingir o teto a xícara explodiu com o impacto, espalhando o pouco café que ainda guardava por todo lado. A cadeira também fora arremessada, mas para trás atingindo em cheio um armário de ferro, o que causou um enorme estrondo, chamando a atenção de Mia.
— Droga, eu tenho que me acalmar.
Ela estava ofegante, e ainda furiosa, mas sabia que não poderia destruir tudo o que tinha na sala, só porque Alex estava em sua mente. Embora os motivos que o trouxera até ela, justificassem a completa destruição do local. Por enquanto ela precisava estar ali, então procurou relaxar. Colocou a cadeira novamente em seu lugar, sentou-se e continuou a observar o vídeo que mais parecia imagens estáticas sendo exibidas em dois monitores.
***
Após muito observar e pensar, Mia acabou adormecendo. Acordou quando o countdown marcava meia hora restante. Ainda que seu semblante permanecesse sereno, ela estava ansiosa. Sabia que a qualquer momento eles começariam a acordar, e se ela os deixasse, se matariam pelo medo, ainda mais agora que... Ela preferia ainda não pensar nisso, embora soubesse que muito em breve não teria escapatória. E esse breve duraria apenas alguns minutos. O galpão era frio e completamente sem iluminação. Talvez algumas frestas deixassem passar poucos raios de luz dos postes ao redor do local.
O vídeo mostrou Talita se mexendo, mas apenas isso. Ela não acordou, mas Mia percebeu que já era hora. O countdown marcaria apenas o tempo aproximado. Eles passaram horas desacordados, e certamente o tempo no cronômetro não seria exato. Mia então se levantou, olhou uma ultima vez para os monitores, e se dirigiu à porta por onde entrou.
Agora sua ansiedade era maior, mas ainda assim sue semblante transparecia calmaria. Mia começou a se lembrar de coisas que era capaz de fazer, e imediatamente a xícara de algumas horas atrás veio em seus pensamentos. Um sarcástico sorriso estava se formando em seu belo rosto, quando pensou na cadeira que estava sentada ainda há pouco.
Novamente as sensações em seu corpo.
Novamente ela sabia o que aconteceria.
Levantou sua sobrancelha direita e ouviu um forte barulho vindo de dentro da sala, torcendo para não ter atingido seu querido notebook.
***
O caminho até o galpão não era demorado. Mia teria levado menos tempo ainda se não tivesse andado tão calmamente até lá. Parou em frente ao grande portão de ferro, tirou um pequeno controle de dentro do bolso de sua calça, apertou um dos três botões, e o portão começou a se abrir, mas não muito, pois logo que houve espaço o suficiente para ela entrar, acionou outro botão, e logo o portão parou. Mia sentiu o ar gélido que vinha de dentro do galpão, se chocar contra seu corpo quente. Sem demora, ela entrou, acionou o terceiro botão e arremessou para fora o pequeno controle, enquanto o portão se fechava. Certamente ele seria necessário do lado de dentro para todos saírem daquele lugar, “mas apenas para pessoas normais” pensou. Logo o portão se fechou completamente.
Restava agora aguardar todos acordarem.
MARAVILHOSO Klee.. Isso só me deixou com mais vontade de ler o resto. Mas sexta q vem tá longee de mais ainda, cmo pode? haha' parabééns, vc é incrível. Suas idéias são incríveis. Você se superou e me surpreendeu. Te amo.
ResponderExcluirEu ameeei ! , realmente meu autor favoriito *-* , pouco inteligente você né ! UAHSUAHSU. Ja estou anciosa pro próximo capitulo !
ResponderExcluirOlá, Kleberson. Admiro muito a sua iniciativa, e o parabenizo por isso. O texto está ótimo, e a história aparenta tomar um rumo incrível. Continue com sua maravilhosa ideia, e eu tentarei sempre acompanhar suas atualizações semanais. Abraços!
ResponderExcluirMuito bom mesmo hein! *-*
ResponderExcluirMayra, obrigado pelo seu comentário. Eu espeor que possa acompanhar a história sim, mesmo que não seja exatamente na sexta-feira da publicação. Sempre que puder volte ao blog, comente e deixe sua mensagem! Abraço.
ResponderExcluirKleberson, você é incrível e tem um potencial igualmente incrível. Parabéns!
ResponderExcluirPARABÉNS vc é de uma INTELIGENCIA incrivel e de uma sabedoria assustadoraa..
ResponderExcluirbeijooos
Miichele Sampaio
Michele, agradeço intensamente seus elogios. Espero que sempre volte ao blog para conferir as novidades que sempre teremos.
ResponderExcluirMuito obrigado!