sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

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Capítulo 2

         Mais uma sexta-feira chegou, sinal de que uma semana se foi, está nos dando um breve descanso para que a próxima chegue.
         Hoje temos uma novidade no capítulo. Quer discutir com outros leitores sobre suas descobertas na história? No final da página temos o aplicativo do Facebook. "Curta", acesse a página e exponha suas ideias e seus avanços.
         Hoje eu trago o Segundo capítulo de O Segundo Clã.



[Capítulo 2]

                A iluminação era mínima e vinha apenas de pequenas frestas da parte alta do galpão. Por algum motivo, todas as janelas, quebradas ou não, estavam bloqueadas com tiras de madeira, e era das poucas brechas existentes entre essas tiras, que alguma luz entrava no ambiente. Mia, sentada em um dos cantos, apenas esperava o momento de agir. Apesar da escuridão, ela sabia que seria necessário algo além da visão para saber quando fosse a hora e por esse motivo, seus ouvidos estavam completamente concentrados nessa tarefa.

***

                Apenas 10 minutos havia se passado, quando o primeiro acordou. Talita abriu os olhos e, exausta, não conseguiu sequer pensar onde poderia estar naquele momento. Sem forças, seu corpo lutou para se apoiar em algum lugar, enquanto sua cabeça lutava para conseguir entender o que e porque ela precisava fazer tudo aquilo. Aos poucos sua consciência foi voltando, e junto com ela, certo medo estabeleceu-se dentro de Talita. Quando finalmente conseguiu prostrar-se de pé, uma leve tontura atingiu-lhe e Talita quase caiu. Esticou os braços para os lados e tentou encontrar alguma parede próxima, mas logo nos primeiros passos, tropeçou em algo. Era uma das pernas de Demian, que estava deitado ainda adormecido. Porém, com toda aquela escuridão, e os filetes de luz iluminando apenas as partes mais altas do ambiente, Talita ficou aterrorizada e tentou gritar. Para sua surpresa, não conseguiu. Sentiu como se houvesse um nó em sua garganta. Teve vontade de vomitar, mas não conseguiu e percebeu que mal conseguia respirar. Pela segunda vez, tentou gritar. Um gosto amargo e ao mesmo tempo azedo chegou a sua boca a força de suas pernas falhou e Talita caiu de joelhos no chão. O impacto foi o suficiente para que ela sentisse que sua garganta agora estava desobstruída. Agora o ar que lhe faltava, entrava e queimava seus pulmões. De repente, algo começou a iluminar o ambiente. Uma luz inquieta e impaciente, com um tom alaranjado. Era fogo.
                Sentada, Mia observava o que acontecia, sem medo ou receios. O fogo estava tão próximo que poderia queimá-la... Se fosse de verdade. Mia sabia que aquilo era apenas o que Talita estava fazendo. Talita ainda tinha sua mente fora de controle, desde o momento em que acordou, e aquele fogo era um simples resultado involuntário da angustia que sentia naquele instante. Ainda assim, Mia não poderia deixar de se espantar com isso, afinal Talita ainda não tinha controle ou ao menos sabia de tudo aquilo e mesmo assim, o resultado seria assustador para qualquer um que presenciasse o momento.
                O Fogo serviu apenas para assustar Talita ainda mais. Respirar ainda era agonizante, mas ela tentou colocar-se em pé novamente. Por algum motivo, ela sentia que estava perdendo suas forças, mas lutava para manter-se em pé.  Quando fixou seus olhos nas chamas que só aumentavam alguns metros à sua frente, viu a silhueta de alguém. Neste momento, Demian, Juliana, e Tom estavam começando a acordarem, quando finalmente, Talita conseguiu o que queria. Um urro descomunal saiu com todas as forças que ainda lhe restavam. O fogo aumentou como em uma explosão, consumindo quase todo o ambiente, exceto onde estavam Talita, Demian, Juliana e Tom. Os três que estavam no chão, sentindo os mesmos sintomas que Talita sentia, tentavam se levantar, atordoados pelo grito, pelo fogo e pela dúvida que habitava suas cabeças perdidas: Inferno?
                Naquele instante, como o Diabo particular de todos, Mia saiu de dentro das chamas. Tudo estava sobre controle, afinal, o momento que ela tanto esperava tinha chegado. Talita tremeu, e involuntariamente soltou um gemido de terror. O fogo ficava cada vez mais intenso, mas ninguém sentia o calor. Mia continuava a se aproximar, imponente e decidida. Mais alguns passos, e levantou sua sobrancelha.

***

                Enquanto tudo isso acontecia, olhos ávidos e atentos observavam tudo através dos dois monitores. Nenhuma expressão marcava seu rosto, apenas a indiferença, por mais que tudo o interessasse. Em suas mãos estavam duas fotografias. Uma delas era de Talita. Aquela que naquele instante fazia o inferno para que o Diabo pudesse reinar. A outra fotografia era daquele que, a seu bel prazer, poderia reviver todo esse momento novamente.
                Depois de observar muito as duas fotos, seu celular tocou em seu bolso. Era uma mensagem. Sem tirá-lo e ler o que dizia, colocou as fotos sobre a mesa, olhou para os monitores uma ultima vez e se retirou. Sabia que não iria demorar até se encontrar com todos eles. Principalmente com um em especial.

***

                Assim que levantou sua sobrancelha, seus quatro aprendizes foram arremessados ao alto. A medida que Mia avançava, os quatro corpos flutuavam para frente. Talita, a única que estava consciente, sentia o maior terror que já provara algum dia. Seu corpo estava suspenso, sentia uma enorme força a sugando. Mal conseguia se mexer, talvez pela fadiga ou talvez por algum outro insano motivo, afinal tudo o que estava acontecendo era insano e não tinha a menor chance de ser verdade. Enquanto mantinha os quatro pairando no ar, Mia começou a cantar, como se apenas ela fosse ouvir, o que pareceu ser a mais macabra das canções de ninar.
                Sweet dreams are made of this...
                O coração de Talita batia desesperadamente dentro de seu peito, como se quisesse cavar um buraco até poder sair e levar consigo sua vida. Neste momento, Demian começava a recuperar sua consciência, ou pelo menos achou que estava recuperando quando percebeu que estava flutuando. Gritou, em vão, em busca de alguma resposta.
                — Quem está aí?
                — Who am I to disagree? — Mia continuava a cantar macabramente.
                — Que porra é essa? — Demian gritava enquanto Talita urrava. Algo parecia estar a machucando, mas Demian nem ao menos sabia quem mais estava ali.
                Os olhos de Mia começaram a subir e em poucos segundos seu globo ocular era branco.
                Travel the world and the seven seas...
                Talita continuava a gritar de dor. Gritava intensamente. Demian começou a se desesperar. Sentia algo rastejar sobre seu corpo, subindo pelas suas pernas e passando pelos seus genitais, porém, quando olhou não havia nada. Tentou tocar, mas não adiantou, seus braços não o obedeciam.
                — Meu Deus, o que é isso? — Demian questionou.
                Tom e Juliana voltaram a adormecer. Várias vezes ameaçaram acordar, mas não conseguiam. Mia começou a virar seu pescoço de lado e soltou um leve riso irônico e estranhamente sensual. Talita começou a sentir seu ar faltar. Havia algo se enrolando em torno de seu pescoço, algo que ela não podia enxergar, mas sabia que a estava sufocando. Logo não conseguiu mais gritar e estava quase perdendo a consciência novamente.
                Everybody is looking for something...
                — Você só pode estar de brincadeira! — Demian havia acabado de perceber de quem era aquela voz que cantava aquela música.
                De repente, houve uma implosão. Os vidros que ainda restavam juntamente às tiras de madeira que tapavam a entrada da luz, implodiram como se houvesse um buraco negro dentro do galpão. Ao mesmo tempo, alguma força, igualmente potente, empurrou os quatro contra a parede que estava alguns metros para trás deles. Então, tudo começou a parar.
                Os cacos de vidro, as madeiras que se quebraram com a força que vinha de dentro do galpão, o fogo... Tudo perdeu a força que tinha. Exceto Demian, que atravessava o galpão em direção a parede. A força do impacto que receberia certamente o desacordaria.
                Para Demian era estranho como tudo estava tão devagar. O tempo talvez estivesse parando, tentando dizer alguma coisa a ele. Tudo, agora, era tão nítido, cada piscar de olhos, cada brilho dos fragmentos de vidro, cada problema... Embora o único problema que o atormentava neste instante era que sua namorada, Mia, havia se tornado um monstro. Talvez realmente estivesse no inferno.
                Então, Demian atingiu a parede e desacordou.
                O tempo voltou ao normal.
                Talita, que mal conseguia respirar, também perdeu a consciência ao atingir a parede. Quando isso aconteceu, o fogo que consumia o galpão desapareceu, sem deixar cinzas ou destroços, deixou apenas uma sequela em sua origem. Talita jamais se esqueceria daquele momento.
                Juliana e tom, também ficaram desacordados. Talvez, quando acordarem, nem se lembrem do que aconteceu naquele momento. Talvez não se lembrem do Diabo e do fogo.
                Mia também estava desacordada. Seu nariz sangrava e sua cabeça estava machucada. Não foi a parede que lhe causou o machucado, mas sim, um pedaço de madeira que, na implosão, a atingiu em cheio.
                Tudo teria sido mais fácil se fosse apenas mais um caso de possessão. 



         "I have a dream that my five children will one day live in a nation where they will not be judged by their differences but the content of their character.

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